DIÁRIO
DE CONCHITA
INÍCIO
DOS ACONTECIMENTOS
AS
MENINAS BRINCAVAM
Era
domingo à tarde do dia 18 de junho de 1961, quando Conchita e mais três amigas:
Mari Cruz, Jacinta e Loli, que tinham quase a mesma idade (12 e11 anos),
brincavam na praça do povoado.
Como
parte das brincadeiras decidiram “fazer uma visita” à plantação de maçãs da
senhora Concesa. E não perderam tempo. Lá chegando, tanto comiam as maçãs, como
enchiam os bolsos. No auge da “colheita”, o esposo da proprietária viu os ramos
das macieiras se agitarem e disse à esposa:
-
“Deve ser as abelhas”!
Dona
Concesa respondeu:
-
“Então vai lá e vê o que está acontecendo”!
As
meninas que já não tinham mais nenhum espaço nos bolsos, pois já estavam cheios
de maçãs, saíram “na pontinha dos pés”, dando gostosas risadas. E assim,
alcançaram o caminho que liga o povoado ao “bosquezinho dos Nove Pinheiros” (também
chamado de Calleja, e também Pinheirais). Entretidas e andando calmamente,
comiam as maçãs, quando de repente, ouviram um forte ruído, como se fosse um
trovão. Comentaram entre si:
-
“Parece que está trovejando”. (Eram 20:30 horas da noite. Como estava no
período do verão, o tempo continuava claro e somente agora, o sol começava a se
esconder no horizonte.)
Assim
que terminaram de comer as maçãs, Conchita falou:
-
“Ah! Que belas trapaceiras somos nós! Agora que comemos as maçãs que não eram
nossas, o demônio deve estar muito satisfeito conosco e dando belas
gargalhadas, enquanto o nosso Anjo da Guarda deve estar muito triste com tudo
isto”!
Imediatamente,
as quatro meninas colheram pedras e as atiraram com toda força, no lado
esquerdo do caminho, dizendo que o demônio estava ali. Na concepção delas, do
lado direito estava o Anjo da Guarda, triste e sério, por causa do procedimento
delas. Cansadas de jogar pedras, sentaram-se e ficaram se distraindo com um “jogo
de pequenas pedrinhas”. De súbito, apareceu uma figura muito bonita cercada de
um maravilhoso esplendor, que brilhava com uma luz muito resplandecente, mas
que não afetava a visão. Com o susto do inesperado as meninas gritaram:
-
“Ai! É um Anjo”! E permaneceram em silêncio.
O
Anjo não disse nenhuma palavra, apenas olhou para as meninas e depois de um
pequeno espaço de tempo, desapareceu.
O Arcanjo e as meninas
Elas
muito assustadas correram para a Igreja do povoado. Encontraram uma amiga de
nome Pili Gonzáles, que as observando agitadas, perguntou:
-
“Vocês estão tão pálidas e assustadas! O que aconteceu? Porque estão assim”?
As
meninas meio envergonhadas, pois se lembraram que tinham “subtraído” as maçãs
da horta de Dona Concesa, disseram:
-
“Estamos assim de comer maçãs”! (A Visão parece ter acentuado nelas certo
remorso e um grande arrependimento, pela falta cometida.)
A
amiga retrucou:
-
“Por isso, vocês estão assim”?
As
quatro meninas responderam ao mesmo tempo:
-
“É que vimos um Anjo”!
-
“De verdade”?
-
“Sim, de verdade. Por isso estamos indo em direção à Igreja!”.
Mas
chegando à Igreja, ficaram sem coragem de entrar, e foram para trás do Templo e
ficaram chorando. Algumas pessoas que passavam por ali, e vendo que as meninas
choravam, se aproximaram e perguntaram:
-
“Porque estão chorando”?
-
“Porque vimos um Anjo”.
Aquelas
pessoas foram ligeiras chamar à senhora Professora que também era a
Administradora do Templo, e que veio logo em seguida e perguntou:
-
“Filhas minha, é verdade que viram um Anjo”?
-
“Sim senhora”.
-
“Será que não foi a imaginação de vocês”?
-
“Não senhora, vimos muito bem um Anjo”!
Então
disse a Professora e Administradora da Igreja:
-
“Vamos rezar uma Estação a Jesus Sacramentado em ação de graças. (A Estação é
uma prática espanhola de devoção à Eucaristia. Consiste em rezar 6 Pais Nosso +
6 Aves Maria + 6 Glória + 1 Credo. Geralmente acrescentam no final 1 Salve
Rainha.)
Quando
terminaram, foram para as suas casas, pois já passava das 21 horas, e
escurecia.
Quando
Conchita chegou à casa, levou “um pito” da sua mãe:
-
“Não lhe disse para chegar antes do anoitecer”?
Ela
muito assustada, contou tudo com detalhes à sua mãe, afirmando:
-
“Mamãe eu vi um Anjo”.
A
mãe não acreditou e não levou o assunto a sério. Pensou que fosse uma “mentirinha”
como forma de desculpa pela filha ter atrasado.
No
dia seguinte, 19 de janeiro, a notícia se espalhou rapidamente no lugarejo,
chegando ao conhecimento de todos. As pessoas faziam as mais incríveis
hipóteses para justificar o acontecimento: “Deve ter sido um pássaro bem
grande”! “Não, era à sombra de uma nuvem, com certeza”! Diziam outras pessoas.
E muitas outras ficavam rindo e caçoando das meninas, julgando que fosse uma
invenção, ou uma nova brincadeira.
As
quatro jovens foram para a Escola às 10 horas e lá, a Professora voltou a
inquiri-las, perguntando:
-
“Vocês estão seguras daquilo que me disseram ontem”?
-
“Sim senhora, nós vimos um Anjo”.
Terminada
as aulas, elas foram para as suas casas, mas a Jacinta e a Mari Cruz saíram
juntas e se encontraram com o Pároco Dom Valentim Marichalar. (Na verdade ele
era Pároco no povoado vizinho, Cosío, e era encarregado do Campanário de San
Sebastian de Garabandal.)
O
Padre perguntou:
-
“É verdade que vocês viram um Anjo”? Elas confirmaram:
-
“Sim senhor”.
-
“Será que vocês não se enganaram”?
Elas
responderam sorrindo com simplicidade:
-
“Padre, não tenha receio de crer, porque nos vimos um Anjo”! E seguiram para as
suas casas.
O
Padre ainda preocupado e com dúvidas, foi procurar Conchita e perguntou:
-
“Conchita, seja sincera, o que você viu ontem à noite”?
Ela
lhe explicou tudo minuciosamente. Ele então disse:
-
“Se hoje ele lhe aparecer, pergunte: quem ele é e o que deseja”?
Em
seguida o Padre foi à casa de Loli para checar, a fim de observar se as
informações coincidiam. Loli repetiu tudo, exatamente do mesmo modo. O Padre
então disse:
-
“Vamos aguardar para ver se ocorrem outras Aparições e se Aquela Figura diz
alguma coisa. Então, se algo acontecer de concreto, eu falarei com o senhor
Bispo”.
As
meninas foram para as suas casas almoçar, pois às 14 horas tinham que voltar à
Escola. Terminadas as aulas, regressaram aos seus lares.
Na
casa dos pais da Conchita estavam fazendo uma pequena reforma. Lá estava o
pedreiro José Diez Cantero, apelidado de Pepe Diez, com Aniceto Gonzáles que
era irmão da menina e servia de ajudante de pedreiro. Conchita pediu
autorização à sua mãe para ir com as outras companheiras, rezar na “Calleja” (era
o local que gostavam de permanecer e onde lhes apareceu o Anjo). O irmão, para
implicar com ela, disse:
-
“Mamãe, não deixe a Conchita ir rezar na Calleja, o povo vai ficar rindo e
caçoando da gente”.
A
mãe, coitada, ficava ainda mais aflita e nervosa, falando e resmungando. Mas quando
chegaram as outras meninas, depois de muitas recomendações, ela permitiu que a
filha Conchita também fosse. O maior argumento de Conchita era simples e
demolidor:
-
“Mamãe, nós vamos lá somente rezar e pedir a proteção da Virgem”.
Ao
passarem pelo povoado as pessoas riam e perguntavam, aproveitando a inocência
das meninas:
-
“Aonde vocês vão”?
E
elas, na simplicidade de seus 11 e 12 anos de idade, diziam:
-
“Vamos rezar na Calleja”.
Eles
então replicavam, sempre rindo e caçoando:
-
“Mas porque vocês não vão rezar na Igreja”?
Elas
respondiam:
-
“Porque ontem nos apareceu um Anjo e temos a esperança de que ele volte e nos
apareça outra vez”.
As
meninas caminharam para o local predileto e foram seguidas, disfarçadamente,
por diversas pessoas curiosas e alguns meninos. Chegando à “Calleja” se
ajoelharam e começaram a rezar o Terço de Nossa Senhora com todo fervor. Alguns
meninos malvados e sem juízo, escondidos no mato, ficavam atirando pedras sobre
elas. Elas suplicavam que não jogassem pedras e então, os “moleques” ficavam
dando altas risadas e caçoando delas. O céu estava nublado e ventava muito. E
como começava a entardecer, decidiram voltar ao povoado e ir à Igreja. No
caminho elas encontraram com a Professora e Administradora do Templo, e ela
perguntou:
-
“Vocês foram à Calleja”?
As
meninas responderam que sim, mas disseram que estavam muito tristes porque o
Anjo não tinha aparecido. Carinhosamente a Professora querendo consolar as
crianças disse:
-
“Não se preocupem. Sabe por que o Anjo não veio? Porque está muito nublado e
ameaçando chuva”.
O
ARCANJO CONFIRMA SUA PRESENÇA
Eram
20:30 da noite, e elas decidiram fazer uma visita ao Santíssimo Sacramento na
Igreja e depois regressaram às suas casas.
Chegando
à casa, a mãe de Conchita lhe perguntou se o Anjo tinha aparecido. Ela
respondeu que não. Mas na verdade, ela encarou o acontecimento de modo natural.
Cuidou de seus afazeres como sempre fazia, jantou e foi dormir às 21:45 horas.
Todavia, como não estava conseguindo dormir, começou a rezar. E então, ouviu
uma voz que lhe disse:
-
“Não se preocupe, porque voltará a me ver”.
Esta
mesma voz, conforme conversaram no dia seguinte, dia 20 de junho, todas elas,
estando em suas casas, também ouviram. Decidiram não comentar o assunto da voz
com ninguém. Assim, o povo do lugarejo começou a imaginar que foi mesmo ilusão
das meninas, porque o Anjo não apareceu, e decidiram então, não se importarem
mais com elas. Por seu lado, as meninas continuaram com o seu ritmo normal de
atividade de todos os dias: foram às aulas e assumiram os serviços em suas
casas.
Na
tarde do dia 20 de junho, concluídas as aulas e os serviços nas suas casas,
elas pediram as suas mães, que queriam voltar a “Calleja”. A mãe de Conchita
não concordou que ela fosse, e disse isto, diante das três outras meninas,
quando estas chegaram à casa da amiga, a fim de juntas seguirem para rezar no
local predileto. As meninas e Conchita insistiram com a mãe dela, mas a senhora
Aniceta não cedeu e mandou que as três seguissem sozinhas. Conchita ficou
inconsolável, e ali triste as amigas permaneceram em completo silêncio. Passados
alguns minutos, a senhora Aniceta voltou à sala, onde estavam as meninas, e
falou:
-
“Está bem, está bem. Eu deixarei a Conchita ir, se vocês fizerem o que eu
decidir. Vocês três vão sozinhas à Calleja, sem dizer nada a ninguém, como se
fossem jogar pedrinhas em qualquer lugar. Depois de um curto espaço de tempo,
para que ninguém perceba, a Conchita irá às escondidas, encontrá-las no local
combinado”.
Conchita
confirmou as companheiras:
-
“Vão que eu irei logo em seguida”.
E
assim aconteceu. Logo depois de um curto espaço de tempo, as quatro meninas
estavam juntas na “Calleja”. E rapidamente, de joelhos, iniciaram a reza do
Terço de Nossa Senhora. O Anjo não apareceu. Mas quando elas, terminada as
orações, se levantavam, foram envolvidas por um forte e intenso clarão
luminoso, tão resplandecente que elas gritaram com medo. Logo em seguida,
aquela luminosidade desapareceu e elas regressaram às suas casas, não foram à
Igreja pois já passavam das 21:30 horas. Em suas casas, não disseram nada,
conforme combinaram, como se realmente nada de novo tivesse acontecido.
O
sacerdote que atendia ao povoado, Padre Dom Valentim Marichalar, residia em
Cosío, e havia pedido as meninas, que lhe comunicasse qualquer novidade que
acontecesse. Mas caminhar 5 quilômetros era muito distante para elas, crianças
com apenas 11 e 12 anos de idade, os seus pais não iriam permitir. Por isso
elas decidiram e sempre contavam tudo aos pais, a fim de que eles fossem a
Cosío e transmitisse as notícias ao Padre Marichalar.
No
dia 21 de junho o povo estava mais tranquilo, cada um ocupado com os seus
afazeres e provavelmente ainda com dúvidas, sobre a ocorrência com as quatro
meninas. Por outro lado, elas também, seguiam sua vida normal. Concluídos os
compromissos do dia, à tarde pediram autorização aos pais para irem rezar na “Calleja”.
Os pais consentiram e elas seguiram o caminho. Percebendo que ninguém estava
preocupado com elas, imaginando que fosse uma grande mentira tramada pelas
quatro, decidiram convidar uma senhora, Clementina González, para acompanhá-las
nas orações. A senhora Clementina aceitou, mas quis levar a senhora Concesa
(proprietária do pomar de maçãs) como companhia. Outras pessoas que observavam
também decidiram acompanhá-las. Chegaram à “Calleja” e rezaram o Terço, mas o
Anjo não apareceu. Então as pessoas presentes riam muito e faziam mofa dizendo às
meninas que rezassem “Uma Estação”, a fim de dar tempo para o Anjo chegar. E
assim elas fizeram, ajoelhadas e com muito fervor rezaram a “Estação”. Quando
terminaram de rezar a Salve Rainha, o Anjo apareceu majestoso e belo. As
meninas entraram em êxtase e o povo presente, percebendo que algo de
maravilhoso estava acontecendo, ficou arrependido de terem zombado delas, e
choravam e pediam perdão a Deus por não ter acreditado e pelo comportamento
inconveniente. Terminada a Aparição, todos voltaram ao povoado impressionados,
convencidos de que o sobrenatural ali tinha se manifestado, e a notícia se
espalhou, chegando rapidamente até o Padre.
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