MEDITAÇÕES
DO PADRE JUSTO SOBRE GARABANDAL
Padre Justo Antonio Lofeudo
O
Padre Justo é atualmente um dos principais precursores na implementação da
Adoração perpétua (Adoração do Santíssimo Sacramento no Altar, 24 horas por
dia) na Espanha. O próprio Padre Justo dá-nos a sua interpretação e meditação
do conteúdo da Mensagem de Garabandal. Aprofundemos estas importantes
meditações.
Introdução
San
Sebastião de Garabandal, a pequena aldeia cantábrica onde as Aparições de Nossa
Senhora tiveram lugar nos anos 60, foi testemunha de mais de mil aparições de
Maria Santíssima provadas por vários sinais de ordem sobrenatural e por graças
prodigiosas. Os sinais são isto: sinais. São sinais que indicam outra realidade.
Neste caso, a presença do divino. O sinal é nos dado para atentarmos na
mensagem que nos vem dar. Certamente, a primeira Mensagem é a presença amorosa
da Mãe de Deus, da proximidade que manifesta mostrando-se uma mãe compreensiva
e atenta ao mais pequeno detalhe, à mínima preocupação ou sofrimento e, também,
à alegria dos seus filhos. Ela é Mãe Universal de todos os homens e de cada um
de nós em particular. Assim a conheceram e lhes foi transmitido às meninas em
Garabandal.
Mas,
para além de nos mostrar a sua Imagem Maternal e por isso mesmo, a Santíssima
Virgem veio dizer-nos coisas muito importantes e urgentes, para a nossa
salvação e para a salvação do mundo.
Para
uma melhor compreensão convém situar-nos no tempo destas aparições. Estas
aparições começaram na década de 60, quando poucos meses depois do seu início,
o papa João XXIII convocaria um novo concílio, concílio Vaticano II. Estes anos
são também o do começo do espírito de protesto e de rebelião que assinalará
toda esta época e em que se davam os primeiros passos na cultura da morte, na
perda de valores como o da família e na instrumentalização do sexo. A década de
60 é a do existencialismo e do apogeu do comunismo, do muro de Berlim e da
guerra fria, da crise dos mísseis em Cuba e do assassinato do presidente
Kennedy. Esta época é igualmente a da contra-cultura do movimento hippy e do
predomínio das ideologias e da pílula anti-contraceptiva. A Mãe de Deus veio
falar-nos desse tempo que é o nosso tempo. Falou-nos com a sua presença e
também com sinais e graças.
Já
se escreveu muito e já se disse muito sobre Garabandal e muitas vezes
detivemo-nos, diria excessivamente, sobre os sinais. Deste modo se explica: num
tempo de grande ceticismo, onde a imanência substituiu o transcendente, onde na
mesma Igreja se estendeu e impera o racionalismo, enquanto se perdeu o sentido
do sobrenatural, os sinais têm sido a resposta que nos permite recuperar o
sentido da Fé. Contudo, sinais e graças devem levar-nos para onde apontam: as
mensagens. Se os sinais serviram para chamar a atenção sobre o que estava a
acontecer em Garabandal e se também foram dados, para quem soube vê-los, como
sobrenaturais, como um selo de autenticidade; agora com o decorrer do tempo,
vemos que as mensagens nos mostram a verdade acerca destas manifestações.
Por
tudo o que foi exposto, conheçamos em profundidade as mensagens e esforcemo-nos
por vivê-las porque elas nos levam ao caminho da salvação.
Mensagens
Vejamos agora a
Primeira Mensagem do dia 18 de outubro de 1961:
“Temos de fazer mais
sacrifícios, realizar mais penitência, e visitar o Santíssimo Sacramento
frequentemente. Mas antes, temos de ser muito bons. Se não o fizermos, um
castigo cairá sobre nós. A taça está quase cheia, e se não mudarmos, um grande
castigo cairá sobre nós.”
“Temos
de fazer mais sacrifícios, realizar mais penitência…”
Detenhemo-nos
nestas primeiras palavras. Por serem as primeiras e pelo que implicam dão ideia
da urgência e da seriedade da mensagem.
O
que nos chama em primeiro a atenção são os advérbios “muito” e “muita”. Já em
Fátima a Santíssima Virgem pediu sacrifícios e penitência. Porquê? Nossa
Senhora o explica logo na mesma mensagem. A humanidade está a ir muito mal,
afastando-se de Deus. Nós que não vemos o Céu, temos na pessoa de Nossa Mãe que
o vê e via e que veio avisar-nos. Foi uma forte chamada de atenção.
Agora,
passados cinquenta anos de Garabandal, vemos como as gretas que separavam o
mundo de Deus se tornaram abismos. Como a apostasia se converteu num dilúvio
que envolve a terra e como os cristãos estão a desaparecer ou a ser brutalmente
perseguidos.
No
entanto, a maior tribulação da Igreja não vem de fora mas sim de dentro, da
gravidade dos pecados cometidos, onde os escândalos e a apostasia da fé, têm um
efeito devastador sobre a Igreja de Cristo e minam os seus alicerces. O Santo
Padre pede penitência e também o faz recordando o Terceiro Segredo de Fátima
tal e qual foi revelado. Pede o Papa para se purificar a vida. Somente os
sacrifícios e a penitência, juntamente com a oração e sobretudo a adoração ao
Santíssimo Sacramento hão-de deter ou minorar as consequências deste caminhar
em direção às trevas. Muitos sacrifícios, muita penitência, diz a mensagem. A
gravidade é tanta que a nossa Mãe apela, a quem verdadeiramente a escuta e a
amando-a estão dispostos a satisfazer os seus pedidos, a tomar consciência de
que só uma vida penitente e oferecida pode reverter a situação.
Sacrifício
é fazer algo sagrado oferecendo-o a Deus. Algo que nos pertence e que damos a
Deus em reconhecimento da sua Divina Majestade, da Sua Glória e, também, do Seu
Amor. Neste sentido, o jejum, por exemplo, é um sacrifício visto que nos
privamos de algo legítimo como é a comida, para oferecê-lo amorosamente ao
Nosso Deus. Há muitas outras maneiras de nos sacrificarmos para além do jejum.
A
penitência, pelo contrário, é a resposta a um mal cometido, reconhecendo esse
mal e como reparação ou como compensação do mesmo. No Antigo Testamento lemos
como até os reis se vestiam com sacos e colocavam cinzas nas suas cabeças em
sinal de penitência. Os sacrifícios e as penitências são movimentos contrários
ao hedonismo da sociedade que só procura o prazer do indivíduo. Mortificar-se
para a salvação da própria alma e das outras almas é um ato de humildade e de
abnegação que combatem os efeitos mortais da procura egoísta do próprio prazer
ao preço do abandono da lei do amor de Deus.
Estas
palavras, sacrifício e penitência, são impronunciáveis neste mundo. Ninguém
quer ouvi-las. Contudo, a Santíssima Virgem, procura filhos que a escutem e que
respondam à sua chamada. Comecemos por oferecer sacrifícios e penitências e
logo tratemos de aumentá-los.
“…e
visitar o Santíssimo Sacramento frequentemente.”
Visita-se
o Santíssimo porque se reconhece a verdadeira presença e real de Nosso Senhor
Jesus Cristo neste sacramento. Visitá-Lo para adorá-Lo, reconhecendo a Sua
Glória oculta, mas certa. Visitá-Lo para louvá-Lo, bendizê-Lo e dar-lhe graças
pelo dom infinito da sua permanência entre nós e também para reparar diante
Dele todo o mal cometido contra a sua divindade e tudo o que é santo. Quem
visita o Santíssimo Sacramento dá testemunho de fé e de amor para com a
Eucaristia.
A
Santíssima Virgem que apareceu em Garabandal como Nossa Senhora do Monte
Carmelo ou do Carmo veio levar-nos ao seu Filho destacando a presença
eucarística do Senhor no meio da sua Igreja não só através destas mensagens
como também através dos gestos de adoração e reverência que ensinava a fazer às
meninas quando das comunhões místicas que recebiam do Anjo e do milagre do dia
18 de julho de 1962 em que a sagrada Hóstia, dada pelo Arcanjo São Miguel a
Conchita, se tornou visível na sua boca.
A
presença de Jesus Cristo na Santa Eucaristia é presença real, corporal,
sensível, localizável, plena e total. É a presença de Emanuel, Deus Conosco,
que cumpre a sua promessa de não nos abandonar, permanecendo conosco até ao fim
do mundo (cf. Mt 28:20).
Visitar
o Santíssimo é responder ao Senhor abrindo-lhe a porta do nosso íntimo e
entrando no seu íntimo. “Olha que Eu estou à porta e bato: se alguém ouvir a
minha voz e abrir a porta, Eu estarei na sua casa e cearei com ele e ele
comigo” (Ap 3:20). O que adora abre a porta do seu coração a Deus e fá-Lo
entrar na sua vida e Ele partilha o segredo da sua ternura e da verdade da Sua misericórdia.
“Vinde
a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei-de aliviar-vos” (Mt
11:28), dizia o Santo Padre João Paulo II que essas doces palavras recebem a
sua plena confirmação diante do Santíssimo Sacramento do altar. É Jesus Cristo
que nos chama desde a sua morada eucarística até à Sua presença que salva, cura
e consola.
Quem
adora o Pão eucarístico tem a graça da adoração, teme em si a vida da graça e
conhece a graça da vida. Quem adora, já prova as delícias do Céu. Pois, adora o
Senhor que dá a vida, a vida verdadeira, a vida em abundância, a vida eterna.
Adora quem tem o poder de recriar a vida quando se morre em graça. Ele é Deus,
aí presente e nós adoramo-Lo.
“…Mas
antes, temos de ser muito bons.”
Sempre
vi nesta frase um inconfundível selo de autenticidade. A Nossa Senhora não
pediu só sacrifícios, penitência e visitar o Santíssimo, mas acrescentou algo
de muito importante: antes temos de ser muito bons. Se nos tivesse falado de um
caminho de conversão, muitos não a teriam entendido. Se tivesse dito para
sermos santos, muitos ter-se-iam desalentados pensando que a santidade é para
poucos; quando na realidade é para todos, porque todos somos chamados à
santidade, para cumprir a capacidade de santidade que cada um tem de acordo com
a forma como foi criado e as suas circunstâncias particulares. Não disse nada
disso, senão “ser muito bons”. Todos entendemos o que quer dizer ser bons e o
que é “ser muito bons”. Todos sabemos quando fazemos algo que não está bem aos
olhos de Deus. Mesmo que muitas vezes o escondamos, sabemo-lo.
“Ser
muito bons” é uma frase com um grande alcance. Não bastam as penitências, os
sacrifícios, os atos de devoção se antes não há um coração que se deixe
purificar. Não podemos contemplar Deus com os olhos contaminados do mundo. Não
é possível louvar Deus e falar com Deus com os mesmos lábios que proferem
palavras impróprias, mentiras, murmurações, difamações e calúnias, Não podemos
ouvir Deus com o ouvido que se satisfaz a ouvir maledicências, histórias sujas,
palavras que ofendem o Senhor e que Nossa Mãe reprova e que a entristecem.
Os
olhos devem ser claros, reflexos de uma alma limpa e de um coração puro. Os
lábios devem bendizer também os que nos maldizem. O ouvido deve estar atento à
Palavra e à chamada do Nosso Rei e Nosso Senhor. Portanto, para sermos muito
bons, devemos purificar os nossos olhos para que contemplem a Deus. O nosso
olhar não se deve distrair com as coisas vãs deste mundo e muito menos
esbater-se nas impurezas. A boca deve ser purificada como se fosse a de um
profeta, para falar com Deus e de Deus. O ouvido deve escutar o Senhor mesmo
quando o ruído do mundo quer cancelar a sua voz.
Somos
muito bons quando o coração é purificado para responder com prontidão à chamada
de Deus. O nosso coração tem de ser humilde e manso como o Coração de Cristo,
para fazer a sua vontade e para que amemos como o Senhor quer que nos amemos.
“...Se
não o fizermos, um castigo cairá sobre nós. A taça está quase cheia, e se não
mudarmos, um grande castigo cairá sobre nós.”
A
advertência é muito séria. A gravidade do mal entranhado na humanidade e na
própria Igreja já era naquele tempo terrível. É a época do neo-modernismo que
invade a fé, que corrompe a sã doutrina da Igreja, que danifica a liturgia e
banaliza a Eucaristia e que fará com que o Concílio Vaticano II fosse
interpretado erradamente, contrariamente ao que os padres do Concílio tinham
desejado. A teologia que aparece como dominante não está ao serviço da verdade,
o espírito não é o Espírito Santo, mas o espírito do mundo. As correntes
existencialistas e niilistas juntamente com o avanço do marxismo no plano
político e cultural dominam o panorama. A teologia que aparece como dominante
não está ao serviço da verdade, o espírito não é o do Espírito Santo, mas o do
mundo. O afastamento da luz da verdade, da renúncia ao transcendente, da
revolta contra Deus invadem os espíritos e a mancha negra estende-se por todo o
Ocidente que deixa de ser cristão. Nestes anos é possível identificar o
nascimento ou ressurgimento da atual apostasia. O apelo à conversão não admite
esperas. A destruição está às portas.
Perante
a sistemática negação da Igreja local em admitir nem sequer a mera
possibilidade da sobrenaturalidade dos feitos; perante a rejeição das
mensagens, quatro anos depois, a Mãe de Deus teve que dar, não Ela, mas o
Arcanjo São Miguel, a mensagem seguinte:
Mensagem de 18 de
junho de 1965
“Em virtude de a
minha mensagem de 18 de outubro não ter sido cumprida nem realizada e conhecida
pelo mundo, advirto-vos, pois, que esta é a última. De inicio, o cálice estava
a encher. Agora está a transbordar. Muitos cardeais, muitos bispos e muitos
padres estão no caminho da perdição e com eles estão conduzindo muitas almas.
Cada vez menos importância é dada à Eucaristia. Vós deveis afastar a ira de
Deus para longe de vós com vosso esforço. Se Lhe pedirdes perdão com coração
sincero, Ele vos perdoará. Eu, a Vossa Mãe, pela intercessão de São Miguel,
peço que vos emendeis. Estais a receber o último aviso. Amo-vos muito e não
quero a vossa condenação. Rezem com sinceridade e nós ouviremos as vossas
preces. Deveis fazer mais sacrifícios. Lembrai-vos da Paixão de Jesus.”
“De
inicio, o cálice estava a encher. Agora está a transbordar.”
Quatro
anos passados, a situação piorou ao ponto que transbordou. Já não há nada que
detenha a precipitação do mal. E, como veremos, não só no mundo como sobretudo
na própria Igreja. Com efeito,
“Muitos
cardeais, muitos bispos e muitos padres estão no caminho da perdição e com eles
estão conduzindo muitas almas.”
Esta
parte da mensagem foi a mais difícil de aceitar por alguns membros da Igreja
que eram os que deviam dar o seu parecer sobre a autenticidade das mensagens.
Dizia-se – Como era possível que Nossa Senhora, Mãe da Igreja, pudesse falar
nestes termos? Não se queria ver o fundo da verdade daquilo que estava a
acontecer. Os escândalos e os erros graves na doutrina iam-se estender e iam
abarcando regiões inteiras.
Por
paradoxo da história, hoje, esta parte da mensagem é o que dá maior
credibilidade às aparições.
Nas
meditações famosas da Via Crucis de 2005, o então Cardeal Ratzinger
advertiu-nos quanto à decomposição interna da Igreja. Na nona estação disse:
“Quanta sujidade na Igreja e entre os que, pelo seu sacerdócio, devem estar
entregue a ela! Quanta soberba, quanta auto-suficiência! (Está presente na sua
paixão) a traição dos discípulos, a recepção indigna do Seu corpo e do Seu
Sangue (comunhões sacrílegas e também mencionou as celebrações eucarísticas
indignas), é certamente a maior dor do Redentor, a que lhe trespassa o coração.
Não nos resta mais nada senão gritar desde as profundezas das nossas almas:
Kyrie, eleison Senhor, salva-nos…”.
Na
oração que seguiu à meditação acrescentou: “Nós que te traímos, não só com os
gestos pomposos e as palavras sonantes. Tem piedade da tua Igreja… Ao cair,
caímos em terra e Satanás alegra-se porque pensa que já não nos poderemos
levantar; espera que Tu, ao seres arrastado na queda da Tua Igreja, caias para
sempre. Mas Tu te levantarás. Tu reincarnaste, ressuscitaste e podes
levantar-nos. Salva e santifica a Tua Igreja. Salva-nos e santifica-nos a
todos”.
O
Papa Bento XVI estabeleceu o Ano Sacerdotal para reavivar nos sacerdotes de
Cristo o amor pela missão e a fidelidade aos compromissos assumidos incluindo a
castidade. Tomou como modelo o sacerdote Santo Cura de Ars, um humilde padre
rural na França anti-clerical do século XIX que soube acolher os pecadores e ao
perdão no Sacramento da Reconciliação. O modelo para o Santo Padre, é um homem de
oração, de adoração, amante da Eucaristia, com um amor que contagiou uma parte
do povo de Deus que lhe foi confiada e que passava muito tempo no
confessionário.
O
Papa Bento XVI está consciente de que os maiores perigos que deve enfrentar a
Igreja não vêm de fora, mas de dentro e não só pelos escândalos de ascensão
social, de dinheiro e do pecado contra o sexto mandamento, na sua forma mais
perversa e mais execrável, mas sobretudo pelo maior dos perigos: a perda da fé.
Em muitos seminários e centros de formação, a falsa teologia continua a fazer
estragos provocando no melhor dos casos confusão quando não provoca um
ceticismo nos jovens piedosos e crentes. Nos seminários, psicólogos e
sociólogos tomaram os lugares dos diretores espirituais. Nas universidades
católicas, muitas são as cadeiras que servem para corroer a fé, insinuando
incertezas. Principalmente com estudos da Bíblia que tratam a palavra de Deus
não como sendo inspirada pelo Espírito Santo mas como um cadáver que se deve
dissecar. Enquanto que se expõe meras conjecturas como se fossem verdades
irrecorríveis por virem de um saber supostamente científico, os dogmas de fé
são postos dissimuladamente ou até abertamente em dúvida. Por exemplo, nas
universidades, algumas pontificas, questiona-se a verdade histórica de
Ressurreição e põe-se em dúvida a própria divindade de Jesus Cristo. O chamado
método histórico-crítico é para esta teologia a única medida para a verdade e
para as evidências.
“Cada
vez menos importância é dada à Eucaristia. Vós deveis afastar a ira de Deus
para longe de vós com vosso esforço. Se Lhe pedirdes perdão com coração
sincero, Ele vos perdoará.”
A
Eucaristia é o tesouro da Igreja, é o dom infinito que o Senhor fez de si mesmo.
A Eucaristia faz a Igreja e não há Igreja sem Eucaristia. Toda a vida
espiritual da Igreja reconhece a sua fonte e culmina na Eucaristia. A
Eucaristia é o sinal sacramental da presença do Senhor, do seu Sacrifício e de
Comunhão no Banquete místico. Todas estas dimensões estão intimamente unidas. A
presença alude à presença única, real, verdadeira e substancial da Pessoa
Divina de Cristo. O único sacrifício do Gólgota volta a fazer-se presente, o
dizer faz-se atual, no momento da celebração quando o Seu corpo é entregue e o
Seu sangue derramado por nós.
Através
da Eucaristia unimo-nos intimamente, em comunhão com Deus e entre nós pelo seu
filho.
Com
belíssimas palavras o, então, Cardeal Ratzinger iluminava o mistério dizendo:
“O que seria de nós sem a Eucaristia?”
“Não
haveria Igreja, não haveria sacramento, não haveria sacerdócio, não haveria
presença, presença única da Pessoa de Cristo, não haveria sacrifício, não
haveria redentor.”
“...
O sacerdote abre o céu para que Cristo venha à terra.”
“O
sacerdote não age por si próprio só age porque se revestiu de Cristo não só por
fora mas também e sobretudo por dentro. O senhor tomou posse, atua e age por
meio do sacerdote.”
“O
Senhor está presente e pronuncia pela boca do sacerdote as palavras santas que
transformam coisas terrenas num mistério divino.”
“…A
missa não é só um banquete. O sacrifício faz-se presente na missa. Ele faz-se
presente.”
“O
sacrifício de amor de Deus que rasgou o véu do templo, que partiu em dois o
muro que separava Deus do mundo, isso é o sacrifício da missa. Este é o
acontecimento da Eucaristia. Esta é a sua grandeza. A redenção faz-se presente
porque o amor crucificado se faz presente. A lança do soldado romano penetrou
fundo no coração de Deus. Cristo rasgou o céu na hora da cruz e volta a
rasgar-se sempre na hora da Santa Eucaristia.”
O
Senhor nos deu a Eucaristia na Última Ceia para que fosse celebrada e
contemplada. Pois, o que é que aconteceu desde que a Santíssima Virgem nos deu
esta mensagem? Banalizou-se a Eucaristia, foi reduzida a um mero banquete
convivial protestantizado, de caráter puramente horizontal, onde a presença,
por uma liturgia vã, se tornou (mesmo que não o digam) simbólica. Perdeu-se a
grandeza do mistério, perdeu-se a dimensão contemplativa alegando-se que a
Eucaristia foi dada para ser comida e não adorada, quando a Santa Missa é o
acto mais sublime de adoração. O Santo Padre mais uma vez recordou as palavras
de Santo Agostinho: “Que ninguém coma dessa carne (que ninguém comungue) sem
antes adorá-la… porque se não a adorássemos pecaríamos”.
A
Eucaristia e o sacerdócio, ambos dom e mistério que nos deixou o Senhor antes
da sua Paixão, reclamam-se mutuamente. Nasceram juntos e vão juntos: não há
sacerdócio sem sacrifício eucarístico, nem Eucaristia sem sacerdócio
ministerial. Por isso, à medida que se dá menos importância à Eucaristia decai
o sacerdócio e vai se degradando. Degrada-se pela má prática, consequência da
já aludida má teologia e pela contaminação litúrgica que horizontalizou a
celebração, deslocando o centro, que é e deve ser sempre Deus, para o sacerdote
e os fiéis. Assim, vai-se perdendo toda a dimensão de transcendência, toda
reverência e grandeza diante do mistério que chega, em muitas partes do mundo,
à anarquia do culto. O sacerdote torna-se protagonista, o sacrário esconde-se,
os altares em vez de serem a parte mais alta são rebaixados. Algumas igrejas
parecem mais um anfiteatro do que uma igreja, em definitivo: “Não deis as
coisas santas aos cães nem lanceis as vossas pérolas aos porcos….” (Mt 7:6).
Quem
está do lado dessas reformas são os mesmos que se riem de quem sustenta, com
todo o peso das Sagradas Escrituras e dos Magistério que Deus é Justo e a Sua
Justiça é temível. “A ira de Deus” dizem que é um conto para assustar as almas
crentes e temerosas. Vê-se o plano diabólico, por um lado, faz o mistério vão,
tirando à Eucaristia a Sua dimensão de sacrifício e por outro lado tirando a
dimensão salvífica, desconhecendo a presença real do senhor, ao mesmo tempo que
danifica o ministério tornando a Santa Missa como uma mera mesa de comunhão
fraterna. Desse modo ofende-se a Deus porque não se Lhe presta o culto com a
reverência e unção devidas e, ao mesmo tempo, desacredita-se a via do
arrependimento porque Deus, asseguram, não se pode ofender em razão da sua
impassibilidade e porque também é misericordioso. Trágica falácia que conduz à
perdição eterna.
A
Mãe de Deus instiga-nos a iniciarmos um verdadeiro caminho de conversão. A Mãe
de Deus nos urge a iniciar um verdadeiro caminho de conversão exortando-nos a
arrependermo-nos, a honrar e a adorar a Sagrada Eucaristia e a pedir perdão a
Deus sabendo que é Justo e que nós podemos somente oferecer como mérito próprio
a Sua infinita misericórdia.
“Eu, a
Vossa Mãe, pela intercessão de São Miguel, peço que vos emendeis. Estais a
receber o último aviso. Amo-vos muito e não quero a vossa condenação.”
O
tempo que resta até que se manifestem grandes acontecimentos é muito breve. No
rigor da verdade, estes acontecimentos já começaram. Basta só querer ver a
apostasia geral, a rebelião das nações contra a lei de Deus, a perseguição aos
cristãos que não é outra coisa que a guerra ao Cordeiro, a grande obscuridão
que se tece sobre o mundo. Mas, o Senhor não nos deixa sós. Ele prometeu que
estará conosco até ao fim do mundo e que as portas do Inferno não prevalecerão
sobre a Sua Igreja (cf. Mt 28:20 e Mt 16:18).
A
verdadeira Igreja é perseguida e deverá esconder-se; no entanto, embora num
dado momento parecerá desaparecida, não desaparecerá. Este é o tempo em que o
Céu através destas aparições marianas se faz presente para nos advertir e
também para nos consolar com a presença maternal e tão próxima da Mãe de Deus.
Este é o tempo em que o Senhor quer que o dom inefável e infinito da Eucaristia
seja mais conhecido, amado, adorado e em adoração perpétua. A adoração que não
termina, a adoração perpétua, é a graça sobre-abundante nos momentos em que o
pecado invade tudo, a perversão impõe-se por leis e as trevas envolvem a terra.
Nossa
Senhora oferece-nos a Sua proteção especial. Recordamos que veio a Garabandal
com o título de Nossa Senhora do Carmo. Debaixo deste mesmo título, se
apresentou Nossa Senhora no dia 13 de outubro de 1917, quando finalizou a série
de aparições aos três pastorinhos. E já anteriormente, em Lurdes a última
aparição foi a 16 de julho, dia de Nossa Senhora do Carmo. Estas não são meras
coincidências, mas sim sinais.
Sob
este antigo título, a do Monte Carmelo, a Santíssima Virgem oferece-nos o
escapulário como sinal de proteção e prenda que nos assegura o Paraíso. O
escapulário não é um talismã, é um selo de um pacto de amor. Ela veio e vem
proteger-nos com a condição que a escutemos e que façamos o que nos pede de
fazer. Por isso, o escapulário é sinal também da nossa entrega, da nossa
consagração à Mãe de Deus. Sinal que estamos dispostos a emendarmo-nos e a
mudar de vida, fazendo um caminho de conversão cuja meta é o encontro com Deus.
O
escapulário que nos oferece é acolhido na medida em que as suas mensagens
também o são. Revestirmo-nos da sua proteção e da condução da Santíssima Virgem
e merecer a sua promessa implica comprometermo-nos a viver as suas mensagens de
sacrifício, penitência, vida sacramental.
“Rezem
com sinceridade e nós ouviremos as vossas preces. Deveis fazer mais
sacrifícios. Lembrai-vos da Paixão de Jesus.”
Palavras
estas de grande consolo. O Senhor não rejeita um coração sincero e humilde, um
espírito quebrado não o despreza (cf. Sal 51). A Santíssima Virgem fala no
plural porque ela é a Nossa Advogada e Mediadora de todas as graças. A
contemplação profunda da Paixão do Senhor deve levar-nos a sacrificarmo-nos
mais, a imitar o Seu Amor.
Contemplar,
meditar, fazer como a Virgem que tudo guardava no Seu coração (cf. Lc 2:19;51).
Contemplar
é tocar o Coração trespassado de Jesus Cristo, é tocar as suas chagas com a
nossa fé. Quando meditamos e entramos em profundidade no mistério de Deus feito
homem, morrendo na cruz e começamos a vislumbrar toda a largura, altura e
profundidade deste amor, somos transformados. Somo-lo porque o Senhor toca as
nossas feridas, as que são produto do pecado, próprio ou de outros, e somos
transformados de graça em graça.
Ao
fixar o nosso olhar contemplando o crucificado conhecemos Deus: “Assim é Deus.
Este é Deus”. Porque “quem viu o filho viu o Pai” (cf. Jn 14:9). E somos
curados. “Pelas suas chagas somos curados” (Is 53:5). Cristo mostra-nos as suas
chagas gloriosas que nos falam de Seu amor e ensina-nos o que significa amar.
Na Eucaristia celebrada, memorial da Sua Paixão, recordamos o preço da nossa
salvação e o amor infinito de Deus por cada um de nós, e em adoração ao
Santíssimo colocamo-nos diante da presença real, verdadeira, única tangível,
corpórea de Cristo na Eucaristia, é dizer diante do próprio que nos consola,
que nos cura, que nos dá a verdadeira vida e nos enche de Paz. É Deus que não
se fez só homem, mas também se fez pão para nos dar a vida eterna. Meditando na
Paixão do Senhor, recebemos a luz para reconhecer os nossos pecados e
encontrarmo-nos na confissão com o perdão do Senhor no sacramento da
reconciliação. Com o perdão que nos liberta e nos devolve a capacidade de
recebermos graças. Meditando na Paixão compreendemos o valor infinito do
sacrifício de Cristo e a união total com a Sua Mãe Maria Santíssima na cruz e
porque a Nossa Verdadeira Mãe, que procura a nossa salvação levando-nos ao seu
filho. Por meio da meditação recebemos a força para levar Cristo, o único
Salvador ao mundo e para resistir aos ataques e perseguições a que seremos
expostos.
Como
dizia aquele grande adorador e pregador que foi Mons. Fulton Sheen: “Terás que
combater muitas batalhas, mas não te preocupes porque no final ganharás a
guerra ante o Santíssimo Sacramento”.
Padre
Justo Antonio Lofeudo mss
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